Corpos de Ritus Ciganos


Então o dia veio cheio de tons e cidades invisíveis, notados por passos e olhares… Como quem percebe o céu e suas nuvens musicais. Acompanhado de minha esperança, insisti na tua presença, pois assim, mais de perto, conseguia ouvir a cidade respirar, mesmo que nesse momento, a cidade fosse os meus pensamentos anotando os passos no ritmo da respiração… Assando a sola da bota preta, da preta bota de pontas apontadas para o coração do andarilho que estando no caminho sabe, que ali e aqui, existe somente como elemento da travessia do pulmão, observando a cidade na medida que oxigenava os sonhos.


Na cúpula dos pensamentos, costuramos o tecido vivo, como pele do agora, possibilitando o nascimento e morte no mesmo momento…
Certo dia, nessas vias que me anunciavam os ciganos,
encontrei pichado na parede, nos passos que me seguiam
"a morte é a própria vida, vista ao contrário"
aquilo imprimiu em minha respiração algo que imediatamente parecia que estava sendo anunciado pelos meus olhos…
não tinha a sensação de sentido. Era outro sentimento.
Era como se de alguma forma disforme, todos aqueles transeuntes estivessem caminhando com os olhos orçados em suas escolhas, dando-me a sensação que os olhos estavam adormecendo naquele quarteirão com poucos postes iluminando a rua…


O que acabava por estimular o jogo de faróis dos carros, eles eram ilustrados pelas regras de quem absorveu o projeto. Assinando sua assinatura. Naturalizando sua condição de motorista de seu motor turístico, de sentimentos tão tristes quanto às luzes apagadas da cidade dos mendigos dançantes. Das fadas. Das bruxas e seu ritual da dança que ascende os corpos Ciganos... Layla & Cia, sigamos das ruas de sentimentos invisíveis no parque dos residentes, na residência do sete do mês das danças juninas… no rastro dos Ciganos nesse vão dos oceanos…


como quem convida a noite para uma dança com vidro fume e uma voz dizendo bem baixinho "caminham todos eles nas ruas, livres em seus corpos em fluxo". Sem uma interação direta, passei pela situação como um invisível em ações, de tão grande que era o meu encontro com aquela quadra, que agiu como uma vírgula bem colocada nos pensamentos que o parque e a tarde do dia sete proporcionou aos meus pés, olhos... flutuando no ritmo composto de estrelas que mal conseguiam se fazer cintilar. Mas mesclado à isso, tinha os faróis que se relacionavam bem com as casas de luzes entrando no salão. O corpo da Layla e suas amigas, ocupavam o espaço com beleza.

Uma dança em processo de busca, e a mais binita expressão. Seria para um espetáculo todo esse empenho? Os corpos se mexendo animam o olhar, que percebe a respiração levando ao próximo movimento.
Me sentia em orbita, sabe? Como o fato das coisas estarem fazendo sentido para mim, e logo percebi, é assim que as coisas ganham forma. Igualmente um rosto, um corpo, um movimento ou uma voz…
Imerso nesses sentimentos, caminhando em uma quadra com luzes coloridas,
ouvi um homem todo vestido de branco assobiando algo familiar enquanto sonoramente dizia "que todos eles estavam andando livres, que hoje, justamente hoje era uma noite cigana".


Essa frase…
Noite sigana, me levou para o circulo que mais cedo, naturalmente havia se formado enquanto caminhávamos pelas avenidas que nos envolviam para o ritual de corpos invisíveis. E foi assim que o pé da moça entrou na dança sigana. Aquele casual encontro na calada da noite, que em seus corpos narravam suas origens e desejos mais íntimos e pulsantes.
E em algum lugar de meu pulsar lembrava que o mesmo pé que demonstra equilíbrio, força e vitalidade, pode se machucar pelo piscar de nossos pensamentos e interpretações de nossas escolhas, já que na dança estamos invocado espíritos que nos elevam, trazendo o elemento de destruição e recriação de nossa proporia manifestação.


Layla me lembra um sonho que tive esses dias. De um salto tão belo, que cada vez que era executado, um dedo estalava, quebrando. Disse  à ela, cada salto executado na composição dos dedos quebrados, ficava mais belo. Disse que a dramaticidade  do movimento, dependia do pouso finamente sintonizado com a sonoplastia, que entoava os pés recebendo o chão e estalando na reprodução emocionante do grito.


Finalizei dizendo que gostaria de ser convidado pata vê-la fazendo o seu vigésimo e ultimo salto, que nessa dia, à dança, o corpo e seu desejo como dançarina iria se concretizar sobre às luzes do grande salto, que não foge do drama da existência, da manifestação de seu corpo, que nesse salto lembraria aviões japoneses na dança bélica de nosso sistema. Um salto para seu mundo interior. O que antes era um pé, virou uma manifestação concreta de transformação total.


Anunciando a fragilidade do ser humano, assim como seus sentimentos mais animalescos. No vigésimo salto aquilo que antes era um pé, hoje é uma dança que libertou a todos nós pelos ecos das paredes de seu grito.
Nesse ponto lembrei da frase pichada na parede…
Mas a essa hora já nem podia dizer que a noite era Cigana…

..:Rimas Inoar

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