RIO MATOS



RIO MATOS

É de tão longe minhas terras que te chamo pelas torrentes de sul e vc responde nas nuvens - por elas atravessarem o continente - onde eu repouso minha cabeça nos campos de morango te desenhando nas nuvens (que não são as mesmas que vc enviou para dizer que dentro desse peito ainda bate um coração).
Te acolher era colher meu tom, bombom mordido por nós dois no samba, terreiro, ritmo que nossas almas reconhecem com axé.
No meio de tantas almas mudas, encontrei vc: rio matos - Se fazendo um oceano que já tinha naufragado muitos navios, afogado muitos marinheiros.

Vc que se faz as vezes de Mar, tentando fugir da sua dimensão. Vc que olha para o horizonte e não ver onde terminam suas ondas quebradas, sonhos que sei que ainda navegam em seu coração.
Vc que é MAR e emana suas ondas, em busca de amar os rios que conseguem passar por seu coração, quebrando o castelo e desarmando os canhões que vc se acostumará a deixar armado para todos os navios que se aproximavam.
- Vinham eles, com seus estrondosos barcos e suas chamativas velas, cortando, as vezes agredindo seu tempo, seu ciclo, seu rio-mar.
Vc permitia que entrassem ate certo ponto, e depois afundava-os - não era maldade, era apenas seu instinto, sua alma reagindo a todas aquelas coisas inúteis que aqueles colonizadores do amor traziam.

Eu, porém, vim dos rios amazônidas, do mato, das nascente da Bahia do Guajará, trombando com o tocantins e sua térmica brasa.
Eu entrei no rio matos sem navio, nem marinheiro. Entrei de canoa, sem camisa, com frutas regionais: açai, taperebá, cupuaçu, um risco avermelhado no rosto de urucu e poesias nativas, clamadas pelos olhos. Vim sem armas, sem aparatos e escudos, vim sem nada que pudesse agredir seu rio, Matos da mata, da floresta encantada. Canta para os seres animados trazerem suas lunetas no lugar dos canhões, trazerem as casas na arvore e tirarem os castelos sombrios. Trazerem os rios indígenas para a sua alma florir, sair do tom cinza.
Esses rios (raoni e matos) são nascentes de rios que podem nascer do nosso amor, das nossas mananciais de água transparentes em seus seios de mar e amar.
Esses dois Rios que correm n'alma vão trazendo os ventos, a chuva e a bonança que só os rios e suas nascentes podem eternizar.

Samir Raoni
05 de Outubro

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