TECIDO DOS DIAS

O dia tem uma respiração marcada
Pelo pólo da cidade maquiada
Onde ganha quem melhor esconde seus sentimentos.
Será?
Quem se esconde pode se perder.
Quem se apresenta pode aprender.
A dor e a decepção parece ser o caminho comum
Mas não é o único caminho.
O caminho que fazemos todos os dias
Pode ser um novo caminho.
É como acordar, sendo a mesma pessoa,
Mas tendo outra forma de encarar o que se apresenta.
Alguns pegam cobertas de algodão.
Outros de seda.
Outros nem cobertas descobertas tem.
O aquecimento serve para aproximar os corpos.
Gerar mais que perguntas e movimentos programados,
Alienados para o nada.
Nossos medos se tornam mais nítidos quando estamos sozinhos
E entendê-los, pode ser de grande importância
Para não se deixar dominar, assim como não dominar,
Em nenhum nível violentar
Os campos que regem a dança dos seres invisíveis.

Um dia simples, acordei e vi a casa toda bagunçada.
Copos de chocolate quente na mesa.
Pratos com molho de tomate na pia.
A mesa com farelos de pão.
Nessa manhã, fui ao banheiro, lavei o rosto,
E ouvindo a água ecoando na pia,
Lembrei, dos meus vinis deixados.
Coloquei correio da estação de Brás do tom Zé,
E comecei a dançar.
Na medida que fazia a faxina,
Recordei à trajetória vivida.
Os aprendizados interiorizados
Na desconstrução do homem
Para a construção do ser humano.
Pensar que uma simples atitude me aliviou...
Me fez perceber que o que gera um problema
É muito mais a forma como
Nos relacionamos com as adversidades.
É muito mais nossa ação e real interesse
De seguir evoluindo como ser humano
Sem desistir facilmente do outro.
Da louça na pia...
Pois desistindo do outro,
Estamos em gotas homeopáticas,
Desistindo de nós mesmos.

O inusitado da vida está no tecido
Que costuramos, remendamos nossas verdades.
Alinhando nossa percepção
Do que se julga ou classifica.
Gerando a neve e o sol das estações,
Sabendo que daqui mais uns dias é primavera,
Estação onde as flores desabrocham,
Nos permitindo simplesmente
Contemplar as pétalas de luz.
Tecido morto daquilo que um dia fomos,
Que um dia pensamos ter sido,
E que agora já não importar ser,
Mas sim estar presente plenamente no agora,
O momento mais importante.

..: Rimas Inoar

Comentários

  1. ..:Poema escrito ontem na cafeteria e choperia São Jorge, no centro histórico da cidade de são Paulo. O oficio conectou os fragmentos da conversa de dois desconhecidos - agora conhecidos, já que assim que terminei o poema que intitulei 'tecido dos dias', fui até a mesa dos mesmos, me apresentei, e pedi sua permissão para ler o poema -. A ação é independente, e integra meu projeto poético, 'tinta de vida', onde realizo meu oficio de poesias reais<>imaginárias em cafés do mundo, tendo como tecnologia do olhar a observação, a intuição a interação e o coração. tenho livremente chamado, tal trabalho, de poesia do invisível. já que meu objeto de estudo é o invisível das relações humanas.
    Agradeço pela troca de poéticas do olhar e pela receptividade Greta Assis e ao Gutto Szuster. Termino parafraseando o mago fernando Pessoa: A vida é a arte dos encontros embora aja tantos desencontros. E nós nos encontramos em algum momento do espaço-tempo. Terno abraço

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