O CORPO DO CÉU


Vinha no fim do meu olhar
carregados por minha imaginação,
deserto de busca...
de norte, de sul, sufocado pelo
colibri sem asas, publicado no céu tardio,
demonstrativo do pouco tempo que tenho
para dedicar ao fuso-horário, dos passos dados nas
noites das ruas cobertas de catapora, que agora anunciava
sua doença publicada na memória
de um tempo vulnerável e infeliz...
aquele que recai em mim pelo egoismo infantil
de ver o mundo com olhos de criança.
Queria eu ter mantido a fragrância intacta da inocência...
Aquele rebanho se mostrava fúnebre ao culto da noite,
nítida para os cães que farejavam as calçadas da cidade
doutrinada pela intolerância.
Castigo meu eu, por não gritar e andar nu...
nuvens densas escondem pulgas dos ratos gordos de quimera.
A lente da noite tropeça nos museus humanos,
esqueletos incompletos, por pessoas em forma de quadros
expostos na galeria vazia do ângulo ditado pelo roteiro...
A noite não prometeu festa,
mas se apresentou com voz sedutora, maliciosa,
salivas antigas e rugas escondidas na virilha do quasepecado
sucedido pela piedosa neblina da madrugada dispersa em curvas
bêbadas de vodca barata...
E o dia vem vindo...
vem sem nem anunciar sua presença ausente para os duques
da orgia.
Vista do horizonte inalcançável ao colibri
sem memória e sem tempo,
que teve de se adaptar no corpo em transformação da madrugada,
essa que sem asas, caminhou com as próprias pernas,
acreditando que um dia vai poder voar.

Samir Raoni

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