O TOQUE DE MARIA MADALENA



Maria Madalena tocava nas noites tardias de um tempo que lembrava a sutil passagem de estrelas cadentes.
Era sempre de madrugada, quando sua voz atravessava o salão tentando encontrar abrigo nos corações, que pela cidade passavam prometendo beleza nua aos corpos cobertos de solidão selvagem.
Maria Madalena tinha cabelos vistosos, queria que fossem vermelhos, mas a vida é assim, queremos o mundo e o temos, e quando o temos não é o suficiente.
Maria Madalena tem traços finos e um olhar capaz de parar um trem carregado de medo.
Sua presença não pertence a mim, mas em mim se recria, num devaneio só nosso.
Ela e eu, uma configuração sem roteiro, desconfigurado pelo cheiro da lua nova, tropeçando em suas fases la-rocque.
Nas noites que ela banhou meu céu com seu toque, lembro veemente de sua pele doce, seu corpo nublado para meus girassóis, que na manhã do amor, cantava a noite com memória capaz de libertar as estrelas que passam oferecendo desejos.
É assim que o mundo canta seus versos Samir.
A noite se fez dia, assim como eu me refiz.
Sobreviver as estações existentes em um plano de entendimento, não é fácil.
Maria Madalena tem uma alma que precisa de horizontes, e por isso ela sai a noite para tocar a pele dos garotos que não são propostas de “para sempre”, mas são ilhas que ela se permite aportar seu navio, que corre o risco de naufragar, mas esta em alto mar, e isso é viver. É ser livre, ser feliz na incerteza de ao menos poder ser, e depois não ser mais.
Maria Madalena me ama, e por eu ama-lá, decidi que iriamos desbravar juntos esse mar, objetivando ilhas individuais, planos conjuntos de vidas abstratas por tudo que amanhã concerteza vem.
Tudo isso é estação. Como as folhas do amor que caem no inverno para no verão voltarem mais belas e vistosas a alma.
Ela é assim para mim.
Nosso amor renasce a cada estação, a cada ciclo.
E lá vem o dia e a noite formando um casal com visões alheias.
O dia fica com o céu e seu quadro de nuvens.
A noite fica com a tela de estrelas que nutri a calma, a voz crepuscular do amanhã de Maria Madalena.
Seu sorriso desperta entusiasmo marcado pela forma de tocar os acordes.
Nova freqüência, nova musica, mas, sua fragrância somasse a minha admiração que crescen quando ela toca nas noites de sábado.

Comentários

  1. Continua a ser uma delícia ler-te! Até ao que resta das minhas lágrimas! Obrigada por estares aí.

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  2. No mais, tudo é voar. E do voar sobrevém os céus e suas inesgotáveis cores. As cores que definem o tempo e as paisagens de todas estações. Estas, que nutrem a calma, a voz crepuscular do amanhã de Maria Madalena e o todo o cantar do mundo de seus versos Samir.
    Bonito registro, assim como os registros mudos, somente das estrelas, nossos, e de mais ninguém.

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