TRÊS ESCRITOS FRAGMENTADOS EM CONTOS



A FORMA OUSADA DA VOZ
a voz se fazia viva e simples dentro da casa
onde as paredes anotavam pensamentos
despachados aos confins da lembrança,
que naquela manhã acordou com ar de mistério,
esse, logo desfolhado pela loucura incapaz
das paredes, que apertou a voz, ate surgir
a dor verde, amarela e vermelha.
Uma infinidade de céus que não cabiam nas paredes,
na voz ousada, que tentava se libertar,
mas as paredes estavam lá, se preenchendo de loucuras
que mais pareciam prisões
dentro de uma folha gigantesca de sanidade
que agora abria seu portões.



OS PORTÕES DA SANIDADE
tinham um aspecto ferrei-o
de quem já aprisionou muitos loucos,
tinha sangue em seus anéis,
que antes era prateado,
agora, estava totalmente descascado,
com as barras cobertas com ferrugem incolor
de memória abatida pela nevoa da insatisfação,
maquiada por falta de razão.
Tentando arrombar os portões da sanidade,
fomos sendo eliminados um por um...
Muitos de nós nem percebia a dor que agora era evidente;
era um mar de gente se esmagando todos os dias.
A sanidade era um sentimento muito irreal
- não podia existir de fato.
Para ver tudo que vemos e não enlouquecer
a olhar cru de registro é provar o mais alto nível de falta de sanidade.
Nessa fronteira não existe porteiros,
tudo é imaginário, controlado por todos nós,
alimentadores do caus enviados para estudos
aos laboratórios psicosentimentais.
A loucura caminhou de sapatinhos doceis,
sensuais pela noite desprendida de olhar fulminante de desejo sexual,
prometendo um orgasmo capaz de cegar a todos,
que nem perceberam quem os cegou.



A LOUCURA USAVA LANGERAI VERMELHO
No tapete de cores fascinantes
Curvas alineiam o orvalho
molhado do teu sorrio usurpador.
O olhar intrigante ocupa
a beleza incapaz de se permitir,
te perceber em real forma de ser.
Do lado interior, externos sentimentos
assumem formas nunca vistas.
Meu olhar direto tropeçou na sua sensatez,
transferindo a importância ao andar inferior.
Elevador de acesso as minhas cavidadas extremas.
Dentro, eles saiam, e eu parado, tentando saber
se estavam preparados para entrar na forma ousada da voz...
Que tentando narrar a existência pensou em desistir de si
e do próximo passo que adentrasse nos portões da sanidade
entrelaçada em toques, apertos e gemidos na sala onde
a loucura usava langerai vermelho, numa trama capaz
de confundir a realidade que a essa altura dos acontecimentos
não sabia se era fabula, conto ou poesia...

Samir Raoni

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