FACE DO TEMPO



Olho as bordas de meu corpo,
toco a lua. beijo a mão. quente desejo,
carvão queimando a pele do tempo,
que nessa estrada fica atento,
movimentando o dia como quem diz que o céu esta perto.
É longo o sentimento que perpetuo, a face, a forma,
o gosto amargo da memória, sempre fazendo suco de saudade
para tomar nas tardes de solidão.
Adão sabia que seu sacrifício não seria em vão.
O tempo é um cão mordendo o osso dos dias,
cicatrizando um funeral onde as velas não apagam com o vento, não,
refletindo na parede azul; e tudo isso é uma memória que se mistura a
tantas narrativas já realizadas por mim...
Bato na solidão sem medo de chorar, o chão que cabe em mim
nunca mais ei de amar, só marcas do sertão, tão somente o sol pulsar,
parecendo um coração que no peito vive cantar.
O campo muda o jardim, e ele o ser que há.
Vou e volto para mim, um dia ei de encontrar.
Vou para a casa, vejo a noite, e as vezes sonho que bebo a madrugada,
me entorpecendo de pele e cheiro, cubro meu corpo com a pele amada.
Sinto um novo dia em mim, como há muito tempo não sentia,
como se descobrisse o meu jardim que o meu cabelo escondia.
Toco minha face e me vejo assim, como um garoto alado da poesia.
E olhando para o lado te vejo em mim cantando no silêncio, que assim é a vida.

Samir Raoni

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