ELOGIO DA LOUCURA URBANA



A vida é realmente um mar que devemos nos permitir navegar.
São tantos olhos nessa cidade...
São Paulo é um universo interessante, um mar com um fluxo indomável.
Não sei se moraria aqui, mas é significativo passar um tempo.
Encontra-se pessoas e sonhos de todos os tamanhos.

Aqui as coisas acontecem em uma velocidade que me atrai.
Esse mar tem gente rente de amor e dor.
Os braços são laços no metrô veloz dos bairros cortantes.
Lembro dos igarapés calmos de minha cidade: Sol dourando, arvores verdes, flores nascentes do rio igapó, o cabelo no corpo e sorriso no rosto... Abraços mais térmicos.
Aqui o frio do mês de agosto deixa grande parte das pessoas distantes. O centro está cheio de desabrigados ambulantes... A cidade tem um tom meio cinza – creio que isso reflete nos tons das pessoas... Sempre desconfiadas, com pressa, fechadas. Meu olhar acaba sendo atento porque a cidade ainda não teve tempo de engolir meus sonhos... diluir meus tons.
Me sinto um garimpeiro nessa cidade. Um garimpeiro em busca de sonhos lúcidos. Um elogio a loucura tentando captar uma voz perdida na cidade. E hora ou outra essa voz surge, trazendo o valor e magnitude dessa terra. São seres que conseguiram transformar os tons de um jeito admirável. A complexidade das relações criaram aversões valorosas. Isso me faz saber que no caminho existem mensageiros sintonizados com o universo. Se manter confiante e com a energia polarizada é a bussóla. São personagens como: Katia Hidropônica, Andrebal Lírio, Paulo Neumann,Martha Lemos,Esmael Trabuco, Paulo Vicente e Denise Manuela, artistas do cotidiano fazendo do cinza seu objetivo de resistência.

Acordo cedo e saiu para ver a cidade começar sua engrenagem.
Vejo o rítmo e fico alheio, rascunhando o mapa e atento aos olhos, em busca de sinais.
Meu destino é abstrato e nessa tentativa de tradução vejo meu tom.
Mesmo que esse tom não seja completamente definido.
Meu olhar parte da cidade de onde vim achar mais uma peça do quebra-cabeça que me compõe.
Me achar na dimensão de mim é um norte que almejo - Não que eu esteja perdido, mas também não estou achado. Estou em um processo faminto de saciar as fomes que as bocas de meus olhos acendem na textura da cidade Paulistana.
Navegar é achar texturas e cores nas perguntas e respostas, nas certezas e incertezas, nos medos e confianças, nas ruas e casas, nas praças e no céu, no caos e na esperança da cidade que não para, corre como cavalos ininterruptos.

Samir Raoni
São Paulo, 24 de Agosto de 2009

Comentários

  1. Estamos sempre prontos para reforçar as ligações de nossa Teia...somos do Universo mas Nossa pequena comunidade è Aki!

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