O TEMPO É UM CÉU DISPOSTO A ABRIR NOVOS HORIZONTES

O TEMPO É UM CÉU DISPOSTO A ABRIR NOVOS HORIZONTES

Era mais um dia na cidade paulistana: pés pisando o solo que assolava os metálicos veículos, veiculando os dois seres (medo e sonho) indomáveis na avenida cruzada pelas alamedas humanas que as seis horas levantavam das camas para entrar na fila dos ônibus, bancos, hospitais, corredores poloneses, do vai e vêm da cidade que não para...
A vida lembra um ônibus lotado, onde todos querem sentar, mas nem todos conseguem espaço. Todos querem gritar mais nem todos tem voz, nem todos tem coragem.
É incrível saber que existe uma voz que ecoa na intuição analfabeta dos seres.
Vejo a lotação dos ônibus refletir no vazio dos olhos que atravessa os vidros diurnos na saída do casebres, e noturnos na chegada imperceptível dos recintos. Chegada que as lentes cruas de registro tenta captar como velas luminescentes da escuridão que assombra as paredes que os corpos apóiam suas espinhas alinhada na direção dos fuzis invisíveis da conduta “amiga” que toma café-sem-açúcar. Formando sombras que não lembram as brincadeiras infantis, e sim o esboço da solidão desfigurada na nossa própria face destituída de direito próprio... Ópio servido na tigela, e as janelas dos condutores urbanos sufocam todo o amor, espremendo a dor como uma laranja podre que não tem valor na feira onde vende-se nossa luz... Luz essa que depois de consumida apaga os faróis de nossa própria percepção.
Percebo o desejo dos cachorros famintos, andando em bandos vistosos na avenida paulista... Na avenida onde a fome se alimenta dos pés-da-ilusão-sistêmica, da moeda bruta, brutalizada na escada da escala perdida na esquina da escola de vergueiro prado, prato de esperança que alimenta as bocas dos cineastas de sua próprias realidade... Fazendo surgir no fim da tarde o remix da classe trabalhadora, metralhadora de Boa Nova, Uma Utopia historiográfica.
Hiato e ditongo, simples e composto, plural e singular são regras da nossa língua culta, culto sagrado das tradições embutidas, produzidas e consumidas pela favela sonora das almas pontuais do curto tempo de adesão aos descolados do ponto da catedral que faz sua missa diária nos veículos da Bela Vista, bairro onde os semáforos abriram. Onde o tempo é um céu sempre disposto a abrir novos horizontes. Onde as lunetas radiografavam os batimentos cardíacos do ser constituído 70% de água, da senhorita hidropônica. Ela que não parecia paulista, era um outro universo me provando que aqui dentro ainda habita um coração.
Ela, Jazida que encontrei na profundeza dos versos, dos olhos que se contrastaram com meu verdeazulcristalino que no caos da loucura urbana, elogiou o amanhã que vêm com 15° graus, uma nova fila metálica e a certeza de que tudo pode acontecer quando o tempo é um céu disposto a abrir novos horizontes.

Samir Raoni
31 de Agosto, São Paulo

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