ARARI DA MEMÓRIA



ARARI DA MEMÓRIA

Depois de sete dias na cidade de pescadores e noites aluminadas,
retornamos de Cachoeira do Arari. Era 3:40 da madrugada quando deixamos a cidade,
chovia bastante, a noite estava com cheiro de alguma coisa que acalmava,
a rua deserta, a casa do Albertinho Leão estava ali, atolada de fragmentos daqueles dias
que a cidade acolheu-nos com seu convite de sejam bem-vindos!
Nos dias que ficamos na cidade que se denomina o coração do Marajó, vimos pessoas simples, uma cidade com uma beleza que não se restringe ao contraste do rio arari, que banha todos os dias os sonhos de tantos, e nós, turistas da solidariedade aportamos nestas terras. Fomos em escolas ouovir a voz dos jovens, seus sonhos, seus desejos e motivações, assim como seus medos e desilusões com essa terra que tem tantas memórias entranhadas em seus pés, correte em suas veias. Enquanto caminhávamos na cidade para resolver coisas referentes ao trabalho que fomos desenvolver com os movimentos culturais locais e os jovens, íamos fazendo leituras da rotina da cidade, que em cada turno tinha um ritmo bem peculiar, próprio. Pela manhã a praça central - que se não me falha a memória se chama “Praça do Operário” - era tomada pelos pescadores e comerciantes, ali dava para olhar bem nos rostos e olhos daquele povo tão pertencido. De tarde, ate as 16 horas, as ruas ficavam sem movimento, as pessoas estavam descansando, ou produzindo em suas casas, era um turno de ver a arquitetura da cidade, ate que chegava o fim da tarde e o rio arari em cheia e seca, seca e cheia banhava os jovens em sua margem, em seu porto, ponte, palafitas. Pela noite as vezes confraternizávamos com cevada em um barzinho de madeira, bem na frente do rio arari, proseávamos sobre a cidade, sobre os trabalhos que gostaríamos de fazer naquelas comunidades, se tivermos os consentimento dos moradores, falamos também sobre sonhos que estavam bem “longe dali”, mas que naquele céu, naquele arari, naquela cidade pacata componhamos mais um pedaço desse quebra-cabeça, colori mais um dia desse livro com tinta de vida em seu registro sagrado de revelação.
Antes Do retorno a Belém, lembrei dos jovens e das amizades que fizemos na escola estadual Delgado Leão, partindo com um sentimento compensador, e vendo os últimos pingos de chuva nas folhas da arvore comecei a reconhecer aquele cheiro que a madrugada emanava, e meu espirito inalava, era aroma de completude espiritual, um sentimento que esta relacionado a um sentido maior de todos os nossos atos.
Nos despedimos de Ana Lídia (senhora que cuidou de nós durante os sete dias que passamos na casa) e Subimos na van rumo a Camará, 2 horas de Cachoeira do Arari, cidade que íamos pegar o barco com destino a Belém.
Ao chegar no barco, olhei para o céu que estava começando a refletir os seus primeiros raios, agradeci por estar a margem de tamanha beleza e transformação, de poder presenciar o dia e as pessoas iniciarem seus pulsar de vida, mesmo que ela em alguns casos elas não percebam a magnitude que esta por trás de cada centímetro de descoberta...
Subimos para o segundo andar do navio, quando vimos os marajoaras locais oferecendo tapioquinha de manteiga, de coco na folha de bananeira, bolo de macaxeira e café com leite. E na parte de fora um senhor vendendo uma fruta regional, Piquiá, entonava com orgulho e entusiasmo: ainda temos o delicioso Piquiá. Do outro lado outro senhor anunciava em alto e agradável som: ainda temos o saboroso queijo do marajó. As delicias da terra estão bem ao nosso lado, pensei.
O navio anunciou sua saída, o sol já estava com um raio bem vivo, clareando as folhas das arvores, o cabelo dos passageiros, dando sombra aos corpos que se posicionavam na direção de minha lente fotográfica que se “opunha” ao sol para capturar sua obra de arte.
Depois de alguns minutos sentindo aquele vento de rio em meu rosto adentrar com meus olhos para o purpura horizonte, adormeci, quando acordei avistava muitos prédios e ouvia as pessoas anunciando: chegamos em Belém.

Comentários

  1. Samir,

    Surpriendente viagem que vc fez, e ainda mais , gosto do jeito que conta sua visão, conquistando novos jovem para o meio cultural, e gosto das descobertas como desta fruta não conhecida Piquiá, que cor tom ela tem, seu gosto se assemelha com o que?

    Adorei ler seu relato., suas viagens são profundos conhecimentos geográficos.

    Beijos

    Paola Vannucci

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